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Quem sou eu

Fernanda Galvão

Nutricionista, Vegana, Mãe de 2 tesouros!

Recomeço


Depois de alguns anos de terapia, me sinto à vontade em dividir algumas verdades sobre mim e admitir meu jeito de ser e estar no mundo.


Entendo que é sempre melhor trocarmos as frases negativas por positivas, mas talvez com as positivas não seja possível você entender quem realmente sou. Aqui, neste lugar seguro, gostaria de manifestar tudo o que não me agrada, o que não busco e o que não desejo.


Não consigo me relacionar com pessoas que não tenham cuidado e respeito comigo. Também não tenho muita paciência com pessoas espaçosas, que acham que sabem tudo de tudo e que são impositivas. Antes, eu buscava sempre a harmonia, mesmo com estes perfis. Hoje, já me permito distanciar.


Não gosto de relações rasas… prefiro as profundezas das pessoas, falar sobre sentimentos, sobre coisas bonitas e feias, filosofar, me abrir e sentir que a outra pessoa também está aberta para mim. Ao mesmo tempo em que quero mergulhar, tenho receio de me decepcionar com a convivência profunda… acredito que o que mais me decepciona é a falta de coerência, de humanidade, de bondade e excesso de conservadorismo, hipocrisia e preconceito.


Nunca desejei não ser Mãe. Inclusive, desejava ter três filhos(as). Mas, depois que a minha mais nova nasceu e só conseguiu dormir a noite toda quando completou 6 anos de idade, desisti deste desejo. Hoje posso dizer que estou em paz com esta decisão.


Nunca quis ter festa de 15 anos, noivar, ter chá de panela, casar na igreja com vestido de noiva e ter chá de bebê. Sempre fugi intuitivamente destes rituais tradicionais. Considero os modelos de chás (panela e bebê) extremamente ultrapassados. Me parecem um reforço positivo da sobrecarga da mulher.


Não gosto de muito agito e barulho… Tanto não gosto que, trabalhando em escola, nos fins de semana, muitas vezes preciso do silêncio para recuperar minhas energias e poder estar bem para retornar ao trabalho que tanto amo.


Não gosto de “fazer social”. Tanto que quando não me sinto à vontade em algum ambiente, permaneço por pouco tempo. E se prevejo que não me sentirei à vontade, muitas vezes desisto antes mesmo de ir.


Não gosto de lugares chiques. Me sinto desconfortável. É como ir ao shopping… você olha as vitrines, se olha, e acha que tudo o que está vestindo é feio e velho.


Não gosto de comemorações com muitas pessoas. Fico mais à vontade em pequenos grupos. Por isso, quase nunca comemoro meu aniversário com festança.


Não gosto que apareçam na minha casa sem um convite prévio. Tanto que me incomodei muito morando num apartamento em condomínio. Sentia a minha casa permeável e não gostei desta sensação.


Não gosto de dormir tarde. Quando eventualmente saio de noite depois do trabalho, costumo querer muito a minha cama perto das 22h. Acho que tenho uma alma de pessoa mais idosa desde que nasci. Prefiro dormir cedo para acordar cedo e aproveitar o dia, momento em que minha energia está altíssima!


Não gosto que me acordem de madrugada porque depois eu não consigo voltar a dormir. Nossas filhas já sabem que, quando tem alguma questão de madrugada, precisam procurar meu marido. Gosto de pensar que sou o “suporte master” de dia, e ele é o “suporte master” de noite. Acho democrático este modelo.


Não confio na minha memória, por isso, coloco alarme para todos os compromissos que tenho. Meu marido brinca até hoje que, quando começamos a namorar, eu tinha alarme para lembrar que ele tinha entrado na minha vida. Caso contrário, seguiria minha rotina sem considerá-lo parte. (posso afirmar que isso tudo é uma inverdade. Sempre fui muito apaixonada por ele)


Não sei receber elogios. Me sinto um pouco desconfortável e acabo sempre, ao invés de agradecer, falando algo ruim sobre mim para equilibrar a balança. Ainda preciso aprender a aceitar e me sentir valorizada, sem rebater.


Não tenho mais paciência com falas preconceituosas. Não tolero piadinhas antigas que ridicularizam pretos, homossexuais, transexuais e as mulheres. Sabem aqueles “tios” da família que fazem aquelas mesmas piadinhas desde 1970? Mesmo sendo da família, não tolero.


Não gosto que fiquem me olhando enquanto estou cozinhando. Tenho meu próprio ritmo, sou levemente estabanada e provoco algumas bagunças desnecessárias. De vez em quando também não tenho muita lógica na cozinha, principalmente se estou sozinha tendo que fazer um almoço completo. E se resolvo tomar um vinhozinho enquanto cozinho, o que é frequente, tenho menos lógica e agilidade ainda.


Ah! Eu passo muito tempo na cozinha… mais do que eu gostaria. O motivo maior é porque a vida alimentar fora dela não é fácil pra mim.


Ainda sobre este ambiente, me frustro quando me empenho na cozinha e minhas filhas não gostam do que fiz.


Não sou boa em fazer doces veganos. Já testei vários, mas percebi que não é o meu forte.


Algumas vezes, quando minhas filhas eram menores e me pediam para participar da preparação dos alimentos, ficava com preguiça de aceitar porque sabia que iria ter mais bagunça pra eu arrumar depois. Ainda assim, sempre aceitei a companhia delas.


Me desanima ir a um lugar, abrir o cardápio e não ver nenhuma opção vegetariana. Me desanima ainda mais ser atendida por alguém que tenho que explicar o que é uma comida vegana. E me irrita demais, depois de tudo isso, ouvir que a opção existente para mim é salada.


Preciso respirar e contar até 10 quando escuto, depois de falar que sou vegana, que “desde os tempos da caverna o homem come carne”. E conto até 20 quando me perguntam: “mas então o que você come? não sobra nada!”.


Não gosto de não conseguir ser “100% Mãe” na escola onde trabalho. Gostaria imensamente de, quando estou com minhas filhas, me transformar numa Mãe como todas as demais.


Se estou comendo uma porção individual de algo vegano, não gosto de dividir minha comida com ninguém. Penso que se a pessoa tem outras opções que a atendem, deveria deixar a vegana comer sozinha a sua comidinha.


Sou muito sensível com cheiros, e meu "faro" detecta “cc” e bafo à distância.  Confiro minha região bucal e suvacal várias vezes ao dia, e confesso que tenho um problema sério de suvaco fedido. Já testei milhares de desodorantes sem alumínio e nenhum fez efeito para mim.


Não gosto muito de conversar com quem é prolixo. Sabe quando alguém te diz uma coisa, você entende e responde, mas a pessoa segue falando a mesma coisa por mais duas vezes? Talvez por isso, muitas vezes dou relatos resumidos de acontecimentos da minha vida e sempre imagino que eu possa não ter assunto para conversar longamente com as pessoas.


Não gosto de acabar de responder todas as mensagens no whatsapp e, depois de 5 minutos, ver que todas aquelas respostas geraram mais interação. Algumas vezes gostaria que o whatsapp não existisse.


Algumas vezes me pego pensando em sair das redes sociais… mas lembro que são importantes para difundir minhas ideias de veganismo e desisto.


Gosto da rotina ao longo da semana porque me traz organização e segurança, mas não gosto de transformar meu fim de semana também em rotina. Sabe aquele programa fixo como sábado almoço na casa da Mãe e domingo almoço na casa da sogra? Nunca gostei (mesmo amando as duas). Gosto de liberdade para fazer as escolhas no momento em que elas aparecem.


Quer me ver desanimar? Perceber que na minha agenda tem vários compromissos pessoais. Quer me ver desanimar ainda mais? Perceber que na minha agenda tem mais de um compromisso pessoal no mesmo dia. Não suporto não ter tempo para o ócio, para o descanso, para ficar em casa, para estar com “o meu e as minhas”, para cozinhar no meu tempo. Fico com a sensação de que estou sendo “sugada”.


Por fim, não gosto de perder algo que demorei anos para construir, com dedicação, disciplina e amor. Principalmente se quem perdeu não fui eu. Quando isso acontece, sinto que houve uma desvalorização, fico com raiva, triste, me deprimo… depois desta catarse, fico pensando que tem muitas outras coisas horríveis que poderiam me acontecer ou acontecer com as pessoas à minha volta, então me culpo por ter tido aquela reação e me sinto pequena, egoísta. Minha última perda foi o conteúdo do meu blog Sobre a Mesa, o qual alimentei com textos e receitas por 6 anos. Numa transição de servidor, a equipe que estava responsável por salvar meu conteúdo não o fez, e meu blog sumiu do mapa. Este texto é o recomeço deste novo ciclo, com mais receitas veganas, mais histórias da minha vida, mais reflexões sobre a nutrição e alimentação vegana.


Agradeço a cada pessoa que se sensibilizou com esta perda e tentou, a seu modo, resolver o problema, resgatar os textos ou me confortar.


Seguimos juntas e juntos!