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Amorosidade

  • Fernanda Galvão
  • 25 de janeiro de 2025
Amorosidade

Em 2010, após perceber que a primeira temporada do meu casamento com meu marido não havia terminado bem, e depois de passar por uma separação oficializada por um juiz, percebi, no início da segunda temporada, que o amor que sentíamos era forte o suficiente e a vontade de estar juntos era grande o suficiente para nos dar forças para resolver nossas questões como casal e tentar novamente ser felizes. Sentindo essa renovação interna, veio a necessidade de tatuar na minha pele o nome de uma música que significa muito para mim, de uma artista incrível chamada Björk: “All is full of love” | “Tudo está cheio de amor.” Assim eu me sentia… cheia de amor para tentar de novo, para construir uma nova relação, melhor e mais sólida do que a que havia sido construída em seis anos de relacionamento.

Nos seis anos seguintes, entre momentos de crise conjugal e o nascimento de duas filhas, sempre que olhava a tatuagem refletida no espelho, lembrava do sentimento experimentado em 2010, quando decidi marcar minha pele para sempre com essa mensagem.

Hoje, fazendo uma retrospectiva, posso afirmar que, durante todos esses anos, até o momento presente, passei por um processo de purificação, mesmo sem qualquer vínculo ou ajuda de uma religião específica.

Decidi me alimentar somente do que vem da terra… para mim, os animais e o que eles produzem são sagrados, e percebo que, dentro do meu corpo, não me nutriam. Pelo contrário, me intoxicavam, provocando em mim sentimentos que busco, e muitas vezes consigo controlar, como raiva e tristeza. Concluí que meu corpo e alma precisam de nutrientes de outras fontes, sem relação com a vida em cativeiro, maus-tratos e morte. A indústria do leite e dos ovos é tão cruel quanto a da carne; essas são informações que decidi conhecer. E, assim que soube, não pude mais aceitar fazer parte disso. Por isso, me tornei vegana.

Hoje, não acelero mais para passar no sinal amarelo. Não me apresso para impedir aquele motorista inconsequente de fazer uma “costura” na minha frente. Sou capaz de provocar acidentes? Sim, mas talvez por um excesso de gentilezas no trânsito, principalmente com pedestres.

Hoje, não me envolvo mais em brigas. Antigamente, algumas pessoas me provocavam, mas hoje decido não ceder a essas provocações, pois era eu quem sempre saía perdendo. Não gosto da sensação de ter me desentendido com alguém. Optei por me distanciar dos provocadores, reduzindo o tempo de convívio; dentro do meu universo seguro e amoroso, consigo discordar de pessoas próximas e conversar sobre nossas divergências com carinho e respeito. Decidi investir energia nas relações que realmente importam para mim.

Decidi abrir mão de uma casa sempre arrumada e perfeita para ter uma gatinha em casa. Mais um serzinho para oferecer todo o amor do mundo, o melhor cuidado, atenção e dedicação.

Hoje consigo valorizar cada relação construída e me dedicar, à minha maneira, a cada uma delas, sem que isso me desmonte, me quebre ou me faça sentir que tenho pouco tempo para mim.

Como diretora no lugar onde trabalho, ignorei as aulas informais sobre liderança e passei a olhar para meus colegas e colegas da única maneira possível: de forma humanizada, compreendendo os problemas familiares e apoiando no que posso, sem considerar aqueles lemas de subordinação que tanto são disseminados e que nos distanciam de quem deveríamos nos aproximar. Hoje posso dizer que sou próxima de todas as pessoas que trabalham comigo e que me dedico ao trabalho e a elas com carinho, respeito e muita admiração. Não é meu objetivo, mas o que recebo dessas pessoas é ainda maior do que tudo o que ofereço.

Minha tatuagem de 2010, hoje, está um tanto apagada, borrada e modificada pela mudança da pele que encarou duas gestações. Cresceu até um ponto a mais em um “i”, formado naturalmente por uma rubi (aquelas pintinhas vermelhas que aparecem no corpo quando não somos mais tão jovens) que surgiu. No entanto, o sentimento de estar cheia de amor apenas se intensificou, se evidenciou e se tornou nítido e definido dentro de mim.

 

Agradeço imensamente a imagem de How Far From Home.