Não perca nossas receitas! Inscreva-se!

Eu era braço

  • Fernanda Galvão
  • 20 de fevereiro de 2025
Eu era braço

Texto que fiz para as minhas filhotas.

 

Antes eu era BRAÇO.

 

Braço para…

 

segurar vocês no colo e amamentar com o sossego e intimidade que o momento exigia

 

juntar todos os brinquedos espalhados pela casa depois de momentos de muitas trocas ricas

 

lavar todas as roupas em todas as fases: prematura, recém nascido, P, M, G, 2,3,4,5 anos

 

segurar no colo quando se cansavam precocemente durante os nossos passeios

 

segurar as compras da feira com os ingredientes orgânicos das papinhas que preparava para alimentar vocês

 

segurar as compras da farmácia com muitas fraldas, pomadas e lenços umedecidos

 

dar banho, secar e colocar um pijaminha gostoso para dormirem e recuperarem as energias e aproveitarem o dia seguinte

 

segurar o pesadíssimo bebê conforto quando dormiam no carro durante o caminho para o pediatra

 

segurar os livros enormes que li para me preparar melhor nas minhas funções maternais

 

arrumar a cada dia o berço que depois virou cama

 

arrumar a cada dia a cômoda que depois virou armário 

 

deixar a casa limpa para engatinharem e depois andarem por tudo.

 

Hoje sou CABEÇA.

 

Cabeça para…

 

batermos “altos papos” sobre todos os assuntos possíveis

 

buscar compreender as questões psicológicas de cada fase de vocês

 

colocar numa programação semanal todas as atividades que vocês querem ou precisam fazer

colocar na agenda e em formato de alarmes todas as pausas que devo dar ao longo do dia para levá-las a todos estes compromissos 

 

lembrar que não devo mais fazer algumas coisas por vocês, como arrumar o quarto, fazer a cama, organizar o banheiro e colocar a mesa para as refeições 

 

rapidamente virar expert num conteúdo de alguma disciplina para orientar vocês na lição de casa ou ajudar a estudar para uma prova

 

lembrar que preciso ir ao supermercado frequentemente para garantir a alimentação de vocês, que a cada fase passa por novidades

 

pensar, a cada chegada do trabalho, o que preciso preparar quase que instantaneamente para “matar a fome” que acompanha vocês desde a escola

 

entender que vocês não precisam, e de vez em quando não querem, minha presença constante

 

entender a importância de estar próxima das amigas de vocês

 

estudar todas as fases do feminismo e buscar, na formação de vocês, criar meninas autônomas, realistas e com sede de direitos iguais aos dos homens

 

me modernizar, entender os preconceitos antigos e evoluir como pessoa.

 

Acima de ser BRAÇO numa fase ou CABEÇA noutra, afirmo a vocês duas, minhas filhas amadas, que fui permanentemente CORAÇÃO.