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Sobre força e paciência

  • Fernanda Galvão
  • 25 de junho de 2023
Sobre força e paciência

Este texto fiz em 2017, no dia em que minha filhota menor, a Lorena, precisou fazer uma cirurgia de emergência para drenar o líquido entre as pleuras, decorrente de uma pneumonia.

 

 

 

Quando a Tamara nasceu, em 2011, já alimentávamos  a ideia de ter mais um filho. Não, não era para fazer companhia para a maiorzinha. Apenas pensávamos que queríamos ser Pai e Mãe de novo, de outro anjo! Era apaixonante esta nova função que tínhamos, este novo jeito de viver e ver a vida, esta importância toda que acabamos dando para nós mesmos. Passamos a cuidar mais de nossa saúde para sempre estarmos presentes e inteiros para a Tamara. Passamos a cuidar mais de nossas atitudes, pois agora éramos um exemplo e queríamos formar um serzinho do bem.

Passados dois anos de vida da Tamara, fim de 2013, decidimos que estávamos prontos para abraçar uma nova vida! Combinamos desta vez (da primeira vez, eu simplesmente surpreendi o Guilherme com a gestação sem aviso prévio) que esperaríamos a virada do ano para “baixar a guarda” e que vencesse o melhor espermatozóide! Ainda que tivéssemos este combinado, senti uma vontade imensa de antecipar um mês o prazo, alegando para mim mesma que não teria problema, pois este mês seria somente para desintoxicar meu corpo do uso contínuo, por 2 anos, do anticoncepcional.

Depois de eu mesma me assustar com a vinda de um segundo bebê na primeira ovulação, pensei que eu era realmente muito imediatista e que precisava aprender a ter mais tranquilidade e paciência para esperar “o tempo certo das coisas”. Fiquei até com um pouco de vergonha pela minha atitude. Hoje sei que era a Lorena me dando sinais de que precisava vir para a nossa família. E, como acredito que nossas almas são velhas conhecidas, recebi o sinal e executei a tarefa!

A gestação da pequenina não foi tão tranquila quanto a da Tatá. Minha atenção, quando estava em casa, era voltada integralmente para a Tamara e as frequentes sentadas no sofá com as pernas para cima de 2011 se tornaram escassas e pontuais em 2014. O peso intrauterino da baixinha nunca esteve dentro do esperado e eu sempre chorava depois das ecografias! Hoje, já não choraria mais, se soubesse o quão saudável ela seria, quantas verduras e frutas ela comeria com gosto, o quão maravilhada ela deixaria sua Mamãe nutricionista.

A Loli nasceu de parto natural. Veio nesta experiência “animal”, única na minha vida, que não foi tão romântica quanto os relatos que li e ouvi. Tive complicações no pós parto e nossa relação já começou com um desafio extra. Digo extra porque ser Mãe já traz seus próprios desafios. Ser Mãe de duas filhas e estar anêmica, com suspeita de ter em seu ventre ainda pedaços da ex morada de sua filha (placenta), sem força para subir as escadas de sua própria casa, foi desafiador! Não usaria a palavra difícil para o que vivi. Era só olhar para aquela carinha linda, daquela polaquinha magricela que o efeito era o mesmo de uma injeção de ferro! Ela me estimulou, me alegrou, me fez cuidar melhor de mim no momento em que eu mais precisei de cuidados. Serei eternamente agradecida a ela por tudo o que fez. Talvez ela nunca tenha alcance para compreender a importância de sua presença para mim, naquele momento de fragilidade.

Hoje chegou a hora de eu retribuir. De eu estar presente, forte, firme, trazendo alegria para ela, animação e estímulos positivos. Quando soube do diagnóstico de pneumonia com derrame pleural, a primeira coisa que pensei foi “Por que com a minha filha? Tão pequena, tão frágil!”. Depois de passados poucos dias, que parecem muitos para quem está vivendo a história, entendo que este acontecimento apareceu para que ficássemos “quites”, para me mostrar que de frágil ela não tem nada, é uma fortaleza, de pequena ela só tem a estatura e para me tornar uma pessoa menos imediatista, com mais paciência, para esperar o curso natural da vida, pois a vontade que dá é de resolver com rapidez e retormar a vida normal que tínhamos. 

Lenine me fez lembrar disso enquanto dirigia rumo ao hospital, no dia da cirurgia para colocar o dreno. Num engarrafamento em frente ao hospital,  nervosa pelo “evento”, ansiosa para chegar no quarto onde ela estava e ficar grudada nela até o momento da cirurgia, escuto uma música, antiga conhecida, que saia de outro carro:

“… Enquanto todo mundo espera a cura do mal

e a loucura finge que isso tudo é normal

eu finjo ter paciência.  

O mundo vai girando

Cada vez mais veloz

A gente espera do mundo

E o mundo espera de nós

Um pouco mais de paciência.”

Lorena e Lenine, recado dado! Amanhã acordarei mais fortalecida e mais paciente!